Após 38 dias de internação, o Papa Francisco recebeu alta do hospital Gemelli de Roma no último domingo 22 de março, conforme divulgou o Vaticano.
Antes da liberação médica, o líder religioso de 88 anos apareceu em uma janela do hospital e acenou cumprimentos a fiéis. Pouco depois, ele apareceu novamente, dessa vez de alta hospital. Com um aceno, o pontífice disse “Obrigado a todos” para os presentes e deixou o local no banco dianteiro de um carro.
Francisco se recupera de uma pneumonia bilateral — quando a doença acomete os dois pulmões — e precisará de pelo menos dois meses de repouso no Vaticano após deixar o hospital.
Luigi Carboni, um dos médicos responsáveis pelo acompanhamento da evolução clínica do Pontífice no hospital, explicou à imprensa italiana as restrições e prescrições necessárias para a recuperação do paciente.
O Papa não poderá ter contato com crianças nem receber grandes aglomerações de pessoas, a fim de evitar o risco de infecções virais. Além disso, o Pontífice continuará a receber oxigênio por meio de cânulas e seguirá com terapias motoras e respiratórias, visando recuperar a sua autonomia vocal.
No sábado (22/3), ao informar que o papa teria alta no dia seguinte, um dos médicos que tratam do líder religioso afirmou que, nas últimas cinco semanas, ele apresentou "dois episódios muito críticos" onde sua "vida esteve em perigo".
Francisco, no entanto, nunca foi intubado e sempre permaneceu alerta e orientado, disse Sergio Alfieri a jornalistas.
Francisco só foi visto pelo público uma vez durante o período em que esteve internado no hospital, desde 14 de fevereiro, em uma fotografia divulgada pelo Vaticano na semana passada, que mostrou ele rezando em uma capela do hospital.
O Vaticano havia dito na sexta-feira que a condição do papa estava melhorando, embora uma autoridade tenha dito que ele pode ter que "reaprender a falar" após seu uso prolongado de terapia de oxigênio de alto fluxo.
"O papa está muito bem, mas o oxigênio de alto fluxo seca tudo. Ele precisa reaprender a falar, mas sua condição física geral é como era antes", disse o cardeal Victor Fernandez na sexta-feira, segundo a agência de notícias Reuters.
O Vaticano acrescentou na sexta-feira que a condição do papa era estável, com algumas melhorias na respiração e na mobilidade.
Confirmou também que ele não usa mais ventilação mecânica para respirar à noite, mas estava recebendo oxigênio por meio de um pequeno tubo sob o nariz.
Os 38 dias de hospital
O Papa Francisco estava internado desde 14 de fevereiro. Ele enfrentava uma bronquite e respirava com alguma dificuldade, mas foi a contragosto ao hospital, segundo Alfieri. Nestes primeiros momentos da internação, ele seguia com bom humor o tratamento médico.
Na manhã do dia 28, o Vaticano informou aos fiéis que Francisco havia saído do estado crítico. As duas semanas anteriores inspiraram cuidados dos médicos, já que o quadro do Papa havia evoluído para uma pneumonia bilateral (nos dois pulmões). Sua infecção ainda era polimicrobiana, ou seja, causada por mais de um vírus e/ou bactéria e a gravidade do quadro exigiu uma transfusão de sangue.
Diante dos progressos, a Santa Sé declarou que o estado de saúde do Santo Padre era "complexo", mas "estável". A insuficiência renal leve que ele sofria desapareceu, mas ainda não havia previsão de alta. Fiéis foram informados de que Francisco estava melhorando e havia passado uma noite tranquila, mas devido ao seu quadro delicado, mais dias de estabilidade seriam necessários antes que os médicos tomassem uma decisão.
Durante a manhã, o papa foi à capela orar e ainda chegou a receber a Eucaristia. Francisco até então fazia tratamentos alternados com máscara de oxigênio e oxigenoterapia de alto fluxo. Ele ainda seguia um regime de fisioterapia respiratória e estava disposto o suficiente para continuar trabalhando entre os procedimentos, no seu quarto no hospital.
Naquela tarde, porém, tudo mudou. A Santa Sé, que costumava emitir apenas boletins diários a respeito da saúde do papa, voltou a atualizar os fiéis com o anúncio de que Francisco teve uma crise de broncoespasmo isolado enquanto comia. Com a tosse intensa, Francisco acabou vomitando e aspirando uma parte do conteúdo do estômago, o que causou a piora de sua condição respiratória.
O pontífice teve que ser submetido a uma aspiração bronquial para limpar suas vias respiratórias. Pela primeira vez, o Vaticano anunciou que Francisco havia sido colocado em ventilação mecânica, ainda que não invasiva, para melhorar seus níveis de oxigênio. Ele se manteve consciente o tempo todo.
Segundo Alfieri, o papa não conseguia respirar e pediu ajuda. Neste momento, o mais difícil de sua internação, a equipe médica se emocionou e cogitou deixar Francisco morrer.
“Pela primeira vez, vi lágrimas nos olhos de algumas pessoas ao seu redor. Pessoas que, percebi durante esse período de internação, o amam sinceramente como a um pai. Estávamos todos cientes de que a situação havia piorado ainda mais e que havia o risco de ele não sobreviver. Tivemos que escolher entre parar e deixá-lo ir, ou forçá-lo e tentar todos os medicamentos e terapias possíveis, correndo o risco muito alto de danificar outros órgãos. No final, foi este o caminho que seguimos.” - Sergio Alfieri, médico do Papa.
Segundo o médico, o papa tem um assistente pessoal de saúde, Massimiliano Strappetti, a quem já detalhou quais são os seus desejos em relação a cuidados médicos e que advogou por ele também nesta situação.
"Tente de tudo, não desista", Massimiliano Strappetti, assistente pessoal do Papa.
"Foi o que todos nós pensamos também. E ninguém desistiu", confessou Alfieri. O médico ainda disse que ele pediu que lhe dissessem a verdade, e que a verdade também fosse dita aos fiéis.
Alfieri lembrou ao jornal que o papa segurou suas mãos por alguns minutos durante seu dia de maior sofrimento. Durante os dias seguintes, ele ainda estava sob grandes riscos e cuidados, mas o médico contou que o papa tratou com ironia as teorias de que já estava morto. Ao se sentir melhor, fez questão de passear de cadeira de rodas pelas enfermarias e ver outros doentes.
Francisco pediu a um de seus secretários que comprasse pizza para todo mundo da equipe que o socorreu no momento mais difícil. No dia seguinte, perguntou ao médico quando iria para casa, antecipando sua recuperação.
Com informações de Vaticano, BBC e UOL.
Digite seu E-mail abaixo para assinar nossa newsletter
Rua Victor Meirelles, 301 - CentroSanta Rita do Passa Quatro-SP
(19) 3582-6363
santarritense@santarritense.com.br